30 de maio de 2006

Weggis, Brasil


As notícias que merecem ser comentadas vão se acumulando e já começo a pensar o que é que vou fazer para postar durante a Copa. Mas deixarei isso para me preocupar quando chegar a hora (nesse caso, não será pré-ocupação, será ocupação, mesmo). Então, por onde começar? Comecemos por aquele que acabou por se tornar o mais brasileiro dos lugares. Refiro-me, evidentemente, à cidade de Weggis, na Suíça, onde a Seleção brasileira se prepara para a Copa de 2006. As notícias que nos chegam de Weggis dão a exata medida do que é, para um europeu, ter brasileiro por perto. Senão, vejamos: Weggis é uma cidade suíça, à beira de um lago suíço, onde habitam senhoras e senhores suíços (cerca de 3.800 deles, para ser mais exato), numa tranquilidade absolutamente suíça. Para que meus 13 leitores tenham uma idéia mais precisa disso, basta lembrar que a delegacia de Weggis não registrava uma única ocorrência há anos. Aí, de repente, chega uma verdadeira horda de brasileiros ensandecidos e transforma a cidade em um manicômio. Os homens suíços ficam loucos, as roupas usadas pelas mulheres da torcida brasileira são menores do que os maiôs usados por suas esposas suíças. As mulheres suíças, ao contrário, entram em desespero pois, embora não vejam seus maridos suíços bebendo dúzias de caipirinhas brasileiras (a nova mania local, com uma garrafa de 51, que nem cachaça de verdade é, custando 25 euros!) e correndo atrás de enormes bundas brasileiras, são obrigadas a ver os brasileiros, muitos deles com seu estilo “não-existe-mulher-feia-existe-mulher-mal-cantada”, atacando-as sem piedade na rua, tornando qualquer saída até a padaria um suplício para elas, tendo que ouvir coisas como “gostosa”, “delícia”, “carnão”, “ah, isso aí lá em casa...” e outras pérolas do gênero que, se elas tiverem sorte, ainda não foram traduzidas para o alemão. Se elas tiverem sorte, é claro, não duvido que os brasileiros tenham aprendido a falar essas coisas na língua de Goethe... O lago que banha a cidade já foi transformado em mictório pelos brasileiros, os restaurantes que nunca ficavam abertos após as 8 da noite já começam a fechar cada vez mais tarde, alguns já adentram a madrugada. As cercanias do campo onde treinam Ronaldinho, Ronaldo, Adriano e Cia. viraram terra de ninguém, apelidada de “sambódromo”, com barraquinhas vendendo biquínis, garrafas de 51 (que, sempre é bom lembrar, não é, nunca foi e nunca será cachaça, é só uma reles, simplória e prosaica caninha...), bandeiras, buzinas, bolinhos de bacalhau e, é claro, a boa e velha caipirinha. Além de muita confusão, barulho, batucada, brasileiro discutindo futebol, mulatas, samba, bundas apertadas em calças justíssimas e essas coisas que, ô ô, são um pouquinho do Brasil iá iá.
Só fazendo a ressalva, não quer dizer que eu seja contra nada dessas coisas. Mas, vamos e venhamos, tem hora e tem lugar pra tudo. Nada contra biquínis, nada contra caipirinha, nada contra samba e batucada. Mas há que se respeitar a casa alheia, minha gente! Mijar no lago, furtar restaurantes, cantar senhoras na rua, tudo isso é um pouquinho demais... Lembram que eu disse que a delegacia não registrava ocorrências há dez anos? Pois nesses poucos dias em que lá está a Seleção canarinho, já foram registrados furtos, roubos e agressões. No último sábado, a população da cidade, normalmente de 3.800 habitantes, ganhou o reforço de 20.000 pessoas que lá foram ver os treinos do Brasil.
Não é por nada, não, mas deixem eu perguntar uma coisa: quando é que algum desses suíços de Weggis vai querer ver brasileiro de novo? Será que algum deles, num futuro próximo, coçaria sua carteira suíça, pegaria seus francos suíços e marcaria uma viagem suíça para o Brasil? Pode até ser que os suíços se animem, mas duvido que as suíças deixem...

Quem é doido de querer levar uma vida normal com brasileiro por perto?

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