3 de maio de 2006

Levando a culpa


O prédio, no Rio, era um desses mais antigos, onde um elevador igualmente antigo era disputado a tapa pelos moradores. Lá morava Paulinho, amigo do Tubarão, já citado antes neste blog (ver “O hematoma”). Nos horários de pico, costumava haver fila para tomar o elevador. Os dois, no auge dos 16 anos, descem pelo elevador exatamente em um desses horários de pico. Enquanto descem, aproveitam o elevador para... como direi sem baixar o nível?... ah, a finesse que se dane... para soltar uns peidos no elevador, pronto! Típica brincadeira adolescente, cujo único efeito mais sério era tornar o elevador insuportável. Estão nessa de um peido pra lá, outro pra cá, risadas, etc. Mas como sempre tem um porém, dessa vez a viagem foi interrompida. No terceiro andar, o elevador pára e entra uma mulher, gordinha, cheia de livros. Logo que entra na cabine, a mulher percebe que há algo de estranho no ar. Aliás, algo de podre. Horrorizada, olha para os dois, que, tal e qual jogadores de pôquer, não mexiam um músculo. Por dentro, estavam quase se dobrando de rir, mas por fora a aparência era de uma rocha. Descem os três, naquele silêncio constrangedor, quebrado apenas pelo barulho do elevador chegando ao térreo. Nem bem a porta abre, sai do elevador o Paulinho, cara muito séria, com a mão no nariz:
- Putz, que mulher escrota...
Na seqüência, sai o Tubarão, embarcando na onda do Paulinho:
- Caracas, essa mulher tá passando mal, gente!
E, finalmente, constrangidíssima, sai a mulher, usando os livros para cobrir o rosto, andando o mais rápido que podia. Mas não rápido o suficiente para deixar de ouvir o primeiro passageiro que entra na cabine:
- Putz, ela tá mal, mesmo...
Mais à frente, rindo feito dois idiotas, o Paulinho e o Tubarão curtiam a tremenda sacanagem que haviam feito.
É o que eu digo: sempre tem um debochado...

Quem é doido de descer no mesmo elevador que o Paulinho e o Tubarão?

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