9 de fevereiro de 2006

Sossega, Leão!


Parece incrível, mas algumas pessoas, ditas celebridades (acho esse conceito de celebridade um tanto discutível, mas deixa pra lá), não têm a menor noção da repercussão de seus atos. Falo isso após ter assistido ontem à noite a mais um espetáculo de truculência e arrogância protagonizados pelo treinador do Palmeiras, Emerson Leão. Aparentemente, ele agrediu com um soco um repórter após este ter lhe dirigido uma pergunta que não agradou. Posteriormente, no vestiário, mais calmo (ou menos nervoso), Leão disse que o repórter o agrediu primeiro, colocando um microfone na sua cara e que o mesmo teria lhe desferido um chute na canela, que seria objeto de queixa contra o repórter e exame de corpo de delito. Mas as imagens mostraram que foi ele quem saiu acompanhado por policiais e foi encaminhado ao distrito policial, pois o repórter foi mais rápido e deu queixa dele primeiro. Leão seria até digno do benefício da dúvida, não fosse o seu histórico de confusões e desentendimentos em quase todos os lugares por onde passou. Sou obrigado a confessar que acho a história do repórter mais convincente. Além disso, a agressão ao repórter foi testemunhada pela PM de São Paulo. Só acho que um técnico de futebol acostumado aos holofotes deveria saber que os microfones à sua frente não são exatamente uma forma de agressão. Aliás, ele deveria saber que algumas pessoas inclusive ganham seu sustento empunhando tais microfones e que é graças a essas pessoas que gente como ele (infelizmente) tem tanto espaço na mídia. Mas talvez seja querer demais dele entender isso.
Leão é apenas mais um de tantos lamentáveis personagens que o futebol criou ao longo dos anos. Assim como Edmundo (El Matador!), Marcelinho Carioca, Guilherme (El Matador II – A Missão), Josimar (aquele lateral-direito que fez dois golaços na copa de 86 e que se afundou nas drogas), Reinaldo (que deu a volta por cima) e outros tantos, passando inclusive por Garrincha que, à parte o fato de que jogava uma bola absolutamente endiabrada, era também um péssimo exemplo fora dos campos e que hoje tem em Romário um seguidor à altura, boêmio, falastrão e irresponsável.
É lógico que em todas as atividades temos as nossas ovelhas negras e ninguém está livre de ter na família alguém que se envolve em confusões, se mete com drogas, comete uma imprudência no trânsito. Faz parte da vida. Mas me espanta a quantidade desses tipos que proporciona o futebol. Não me surpreende, porque todo o esquema em que se transformou o futebol hoje conspira para isso, mas me espanta. O garoto entra nas categorias de base e se vê, de repente, tendo um contato mais próximo com os caras que ele admirava de longe. E começa a reparar que a vida deles é trocar de carro uma vez por mês, gastar os tubos com equipamentos para o possante e virar as noites correndo atrás das marias-chuteiras, sempre tomando cuidado para não engravidar uma delas, o que nem sempre conseguem. O menino só pode pensar “Bom, se é assim que se comporta um cara que conseguiu chegar lá, é assim que eu devo ser se quiser chegar lá também”. E, menino que é, fica com essa idéia na cabeça desde cedo, criando falsos conceitos que depois o acompanharão para sempre. Ninguém pensa em comprar uma casa, em estudar, em investir em cultura e educação. Os interesses geralmente são outros, bastante rasos. Os exemplos citados anteriormente ilustram bem esse tipinho.
Por outro lado, temos gente como o Raí e o Leonardo, que sempre receberam incentivo para não largar os estudos e hoje continuam em destaque, mesmo já tendo abandonado os campos. Leonardo, inclusive, é diretor do Milan, um dos mais poderosos clubes do mundo. Além de serem sócios na Fundação Gol de Letra. Dois exemplos de onde se pode chegar investindo nas coisas certas.
Parece muito claro que os clubes deveriam gastar uma parte de seus investimentos em profissionais que preparassem os garotos para o sucesso, incentivando-os a estudar e dando-lhes o estofo cultural e moral que mais tarde vai transforma-los não só em bons jogadores, mas também em bons cidadãos. Gente que vai saber dar um exemplo muito melhor do que tipos como o Leão, que acha que pode se comportar como se o resto do mundo estivesse uma categoria abaixo dele. As entrevistas o irritam? Os repórteres são chatos? A marcação da imprensa o deixa nervoso? Muda de profissão, ué! O mundo, especialmente o mundo da bola, certamente não vai sentir a menor falta desse tipo de gente.

Quem é doido de achar que esse cara é um exemplo?

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