17 de fevereiro de 2006

O dia em que uma moça invadiu o campo


“O Josemar é popular, lá-iá, lá-iá”. A música era cantada para saudar esta grande figura que é o Josemar, também conhecido como o Popular. Bom, talvez grande seja um exagero, mas uma figura, certamente ele é. Difícil era saber como um coração tão grande cabia num sujeito tão peque... quer dizer, pouco alto (calma, Josemar, eu me corrigi a tempo!). Cabeludo, com cara de índio colombiano, atleticano de coração (ninguém é perfeito...) e supersticioso de carteirinha, o Josemar se gabava de nunca ter visto o Atlético perder quando ele assistia ao jogo da geral, atrás da bandeirinha do córner. A verdade é que ele nunca via muita coisa, pois se era pouco alto na estatura, na bebida ele ficava BEM alto. Até demais.
Um belo dia, eis que chega o Popular para assistir a um jogo do Galo junto com um amigo. Aliás, com um amigo e uma amiga, uma garrafa de vodca que ele catou pelo caminho. Portaria do Mineirão, ingresso na mão, o segurança informa ao Popular que garrafas de vidro não são permitidas no estádio. “Quinze minutos”, foi só o que disse o Josemar. E, de fato, em quinze minutos ele estava de volta. Sem a garrafa, mas com a vodca, dividida entre seu estômago e o do amigo, com vantagem para o estômago do Josemar. O dia prometia...
Segundo tempo da partida, a vodca fazendo efeito, o Josemar cutuca o amigo e informa: “Vou invadir”. Os cinco segundos que o amigo demorou para entender que invadir significava realmente invadir o campo do Mineirão foram mais do que suficientes para o Josemar já estar pulando o fosso que separava o campo da geral e entrar, glorioso, no gramado do Estádio Governador Magalhães Pinto, o Mineirão. Do alto das cabines de rádio, a voz inconfundível do locutor Osvaldo Faria anunciou para seus ouvintes:

- E atenção: tem uma moça invadindo o campo. Em trinta anos de futebol eu nunca vi isso, uma moça invadindo o campo.

De um ponto de vista mais privilegiado, ao lado do campo, o repórter da rádio rapidamente desfez a confusão:

- Não, não, Osvaldo, não se trata de uma moça. Trata-se, isso sim, de um cabeludo. É um cabeludo!

Desfeita a confusão sobre a qual espécie o Josemar pertencia, o público pôde presenciar um espetáculo à parte no gramado. Josemar corria pelo meio do campo, de braços abertos, feliz da vida, sendo perseguido por meia dúzia de PMs. Eis que, de repente, não mais que de repente, ele dá um drible de corpo digno de Garrincha nos policiais, que passam lotados por ele. Ah, pra quê? A multidão delirou! Em coro, o Mineirão respondeu ao Popular: “OLÉ!”.
Os policiais não se deram por vencidos, continuaram atrás do Popular e, quando acharam que iam pegar o cabeludo, novamente uma firula desconcerta os homens da lei. E o Mineirão, implacável, respondeu novamente: “OLÉ!”. Era a glória, eram os píncaros do sucesso para o Popular: ele comandava a massa!!! E todo mundo sabe que o pior do sucesso é não saber a hora certa de parar. E aí, quando ia dar mais um drible nos PMs, eis que o Popular tropeça nas próprias pernas e vai estrepitosamente ao chão, para decepção da platéia, que já achava mesmo que a fuga do Josemar era mais interessante que o próprio jogo.
Recolhido às dependências do estádio, o Josemar passou quase uma hora com os ouvidos cheios de todos os tipos de desaforo, além de uma meia dúzia de tapas, também. E só não tomou mais porque o pai dele, que ouviu pelo rádio a hora em que a moça invadiu o campo, deduziu com muita sabedoria que dois mais dois são quatro e que aquele cabeludo não poderia ser outro senão o seu rebento. E foi até lá para, depois de muita argumentação e de prometer encher o filho de porrada, conseguir a liberação do Josemar. Que, desse dia em diante, prometeu que nunca mais beber em dia de jogo. Quer dizer, não beber muito, né? Porque um golinho...

Quem é doido de duvidar do Josemar?

Um comentário:

Anônimo disse...

O Josemar vai ficar mais popular ainbda depois dessa...