23 de março de 2006

O dia em que o "mineirim" bebeu vinho


Outro desses textos apócrifos (dicionário Aurélio, página 144, hehehehehe...) que achei que merecia um cantinho aqui no "Quem é Doido?". Se o autor se manifestar, ganhará os devidos créditos.

"- Hummm... Hummm...
- Eca!
- Eca? Quem falou Eca?
- Fui eu, sô! O senhor num acha que esse vinho tá com um gostim estranho?
- Que é isso?! Ele lembra frutas secas adamascadas, com leve toque de trufas brancas, revelando um retrogosto persistente, mas sutil, que enevoa as papilas de lembranças tropicais atávicas...
- Putaqueopariu! E o senhor cheirou isso tudo aí no copo, sô?
- Claro! Sou um enólogo laureado. E o senhor?
- Cebesta, eu não! Sou isso não senhor! Mas que isso aqui tá me cheirando iguarzinho à minha egüinha Gertrudes depois da chuva, lá isso tá!
- Ai, que heresia! Valei-me São Mouton Rothschild!
- O senhor me desculpe, mas eu vi o senhor sacudindo o copo e enfiando o narigão lá dentro. O senhor tá gripado, é?
- Não, meu amigo. São técnicas internacionais de degustação, entende?
- Entendo. Lá no bar do Tiramãodaí a gente tumém tem umas mania esquisita..
- Ah, é? Os senhores também praticam degustação?
- Não, senhor, só engolição. A gente olha bem a marvada, assim, contra o sol, que é pra ver se num tem barata dentro. Depois joga um tiquim pro santo e manda ver! A danada desce que só vendo! Sai carrascando tudo, bate lá no bucho e sobe qui nem rojão na festa da Trindade. Com meia dúzia, o pessoar já sai avançando nas saia das comadre que é um desassossego! Às veiz sai inté tapa!
- Disgusting!
- Nossa Senhora! Nem me fale! Um desgosto danado! Já teve casamento desmanchado e tudo...
- Caso queira, posso ser seu mestre na arte enológica. O senhor aprenderá como segurar a garrafa, sacar a rolha, escolher a taça, deitar o vinho e, então,...
- E antão molhar o biscoito, né? Tô fora, seu... frutinha adamascada!
- O querido não entendeu. O que eu quero é introduzi-lo no...
- Mas num vai introduzir mas é nunca! Desafasta, coisa ruim!
- Calma! O senhor precisa conhecer nosso grupo de degustação. Hoje, por exemplo, vamos apreciar uns franceses jovens...
- Hã-hã... Eu sabia que tinha francês nessa história lazarenta...
- O senhor poderia começar com um Beaujolais!
- Num beijo lé, nem beijo lá! Eu sô é homem, safardana!
- Então, que tal um mais encorpado?
- Óia lá, ocê tá brincando com fogo...
- Ou, então, um suave fresco!
- Seu moço, tome tento, que já tô coçando de vontade de meter a mão na sua cara desavergonhada!
- Já sei: iniciemos com um brut, curto e duro. O senhor vai gostar!
- Num vô não, fio de um cão! Mas num vô, mermo! Num é questão de tamanho e firmeza, não, seu fióte de brabuleta. Meu negócio é outro, qui inté rima com brabuleta...
- Então, vejamos, que tal um aveludado e escorregadio?
- E que tal a mão no pédouvido, hein, seu fióte de Belzebu?
- Pra que esse nervosismo todo? Já sei, o senhor prefere um duro e macio, acertei?
- Eu vou acertar é um tapão nas suas venta, cão sarnento!!! Engolidor de rolha!
- Mole e redondo, com bouquet forte?
- Agora, ocê pulou o corguinho! E é um... e é dois... e é treis! Num corre, não, fiodaputa! Vorta aqui que eu te arrebento, seu bicha fedorento."

Quem é doido de discutir vinho com mineiro, sô? E quem é doido de aguentar um sommelier desses?

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