24 de março de 2006

A jukebox


Deviam ser umas dez, onze horas da noite e BH fervia. Fomos em direção à Serra, onde um novo barzinho tinha sido aberto. Ao volante, o Fred avisa a mim e aos outros dois amigos no carro que iria fazer uma parada rápida no Wood´s, boteco velho de guerra, onde uma amiga dele fazia sua festa de aniversário. Para quem não sabe, o Wood´s é (ou era, já faz tanto tempo...) um reduto de moderninhos, roqueiros, malucos e alternativos, onde uma enorme jukebox mesclava vários discos do mais puro rock n’ roll com idiotices sertanejas e do axé. Ah, e com um detalhe: num volume ensurdecedor, de estourar os tímpanos, mesmo. Não por coincidência, as mesas ao lado da tal jukebox eram sempre as últimas a serem ocupadas. Pois chegamos ao Wood´s e, para nossa sorte, a jukebox ainda não tinha sido acionada. Até daria para conversar. Daria, se as amigas do Fred não fossem tão feias. Aliás, a bem da verdade, devo dizer que, além de feias, eram muito chatas. E queriam de qualquer jeito que ficássemos na festa, nos olhando com aquele olhar de peixe morto e chegando mais para perto. O Fred ia enrolando, ensaiando que ia embora, até que, na volta do banheiro, ele nos chama para ir embora:
- Pessoal, vamos nessa, AGORA!
O tom do Fred não deixava dúvidas que agora era agora mesmo. Não era daqui a pouco. Levantamos e iniciamos as despedidas, com o Fred nos apressando:
- Gente, vocês não estão entendendo, é pra ir JÁ!
Mal tivemos tempo de entrar no carro e começamos a ouvir os primeiros acordes de “No Rancho Fundo”, cantada por Chitãozinho e Xororó, uma versão que deve durar bem uns sete, oito minutos. Naquele volume ensurdecedor que caracterizava a jukebox do Wood´s. Não há como negar que foi um certo alívio perceber que saíamos bem na hora em que iria começar esta verdadeira tortura musical. O comentário foi inevitável:
- Putz, olha do que nós escapamos! Vai começar a tocar “No Rancho Fundo”.
E o Fred, do alto do seu olhar cínico número 95, dispara, exultante:
- Vai! E vai tocar mais sete vezes depois dessa. Infelizmente o cara do balcão só tinha 8 fichas...
O que eu sei é que fomos para o tal barzinho novo, achamos muito cheio e, depois de meia hora, resolvemos ir pra outro lugar. Na volta, passamos de novo em frente ao Wood´s, onde ainda tocava “No Rancho Fundo” e algumas pessoas se acotovelavam na frente da jukebox tentando fazer parar aquela música insuportável. Não consegui pensar em nada melhor para dizer:
- Fred, na moral, eu quero morrer seu amigo...

Quem é doido de colocar “No Rancho Fundo” pra tocar oito vezes numa jukebox?

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