25 de abril de 2006

O chato-de-bar


Não sei se já disse isso a meus 13 leitores, mas adoro histórias de bar. Acredito que somente no banheiro, trancado entre quatro paredes, o sujeito é mais verdadeiro do que na mesa de um bar. E passo, sem muitas delongas, a contar algumas dessas histórias que tive a oportunidade de ouvir durante este fim de semana.

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Em uma mesa do bar Bracarense, o velho Braca, no Rio, estava o genial cartunista Jaguar, bebericando seu chopinho em uma das mesas. Sozinho como estava, não foi difícil ao Jaguar ouvir claramente a conversa de um paulista, sentado na mesa atrás da sua, ao celular:
- Meu, você não vai acreditar! Estou aqui, no Bracarense, o Braca, tomando um chopp com o Jaguar!
Revoltado por ter seu nome usado levianamente, o Jaguar interpela o cidadão assim que ele desliga o celular:
- Ô, rapaz! Mas você é cara-de-pau, hein? Nem na minha mesa você está e fica dizendo que está tomando um chopp comigo! Só por causa disso, acho que você devia pagar uma rodada de chopps...
O paulista, emocionado, aceita sem hesitar. E, no meio do chopp, já íntimo, pede licença ao Jaguar para fazer uma ligação:
- Meu? Então, estou aqui na mesa com o Jaguar. Fala aqui com ele!
Recebendo o celular, Jaguar conversa com o incrédulo interlocutor, do outro lado da Via Dutra:
- Agora é verdade. Antes era mentira, mas agora ele está comigo, sim!

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O também genial Tom Jobim, nosso maestro Antônio Brasileiro, era um dos alvos preferenciais dos chamados chatos-de-bar. Sabe aquele tipo que senta do lado de alguém famoso e começa a conversar como se fossem velhos amigos, com a mão no ombro do cara, perguntando pela mulher, pelas filhas, criticando as obras de que não gosta? Pois é este o chato-de-bar. O Tom tinha uma maneira infalível, segundo ele, de mantê-los à distância:
- O chato só se achega se você fizer contato visual com ele. O negócio é não olhar para ele diretamente, senão ele se enche de coragem.
Por conta disso, sempre levava um par de estratégicos óculos escuros quando ia à Plataforma tomar seu uísque. Se um chato aparecesse, Tom sacava seus óculos e continuava tomando seu drinque, tranqüilamente.

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Já o Miele, talvez sem conhecer a estratégia do Tom, era pára-raio de chato-de-bar. Um deles era já conhecido de muitos famosos, Miele já o havia mandado à puta-que-o-pariu em mais de uma ocasião, e eis que ele vê o sujeito sentando-se ao seu lado no balcão do bar da Plataforma. Quando o sujeito ia começar o papo, Miele sai-se com esta:
- Olha, meu amigo, se você vai mesmo se sentar aí, não se preocupe. Eu mesmo vou pra puta-que-o-pariu!
E levantou-se, deixando lá o chato-de-bar.

Quem é doido de agüentar um chato-de-bar?

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