6 de outubro de 2006

Rato de biblioteca


Depois dizem que brasileiro não sabe dar valor a livros e à arte. Em São Paulo, um ex-estagiário, ex-telionatário e ex-croque (desculpem o trocadilho, às vezes é difícil controlar...) aproveitava a proximidade com livros e manuscritos raros que o estágio na Biblioteca Mário de Andrade lhe proporcionava e furtava peças importantes do acervo da instituição, para vender. “No mercado negro?”, perguntarão meus desconfiados 13 leitores. E eu responderei: não, numa casa de leilões conceituada, a Babel Livros Casa de Leilão. A casa do malandro começou a cair quando um comprador de uma das obras procurou a direção da biblioteca suspeitando que seu recém-adquirido exemplar da segunda edição de O Guarany, de 1863, pudesse fazer parte do acervo de lá. Através de indícios simples, a direção comprovou sem sombra de dúvida que tratava-se, sim, de uma de suas obras. O que me faz perguntar o seguinte: se um colecionador percebeu que a obra poderia ser roubada, será que a casa de leilões, supostamente especialista no assunto, não percebeu nada? As páginas onde figurava o carimbo do museu estavama raspadas e adulteradas, mas a casa de leilões em nenhum momento suspeitou de nada. A dona da Babel Livros Casa de Leilão disse que não pode divulgar os nomes dos compradores das obras devido ao sigilo. Quanta ética...
Cúmplice do ex-estagiário, o restaurador da biblioteca ajudava a adulterar as marcas de identificação e escondia na casa de seu cunhado obras como uma carta manuscrita por Dona Maria I, a Louca, em 1791.

Agora, eles poderão exercitar essa sua paixão por cartas escrevendo para a família da cadeia. Não que vá valer grande coisa...

Quem é doido de não se importar com o patrimônio cultural do Brasil?

Nenhum comentário: