5 de julho de 2007

O cão e o peão


Quando chegou para um trabalho de pintura na casa de César, o pintor olhou para aquele cachorro e teve medo. Aliás, se o superlativo canzarrão fosse ilustrado no dicionário, aquele enorme fila brasileiro poderia certamente estar retratado ao lado do significado. Meio sem jeito, perguntou se o cachorro era manso. Ora, se era! O mais manso cão do mundo, brincasse com ele, passasse a mão para ver se o cachorro fazia alguma coisa. Morrendo de medo, passou. O cachorro abanava o rabo e revelava aquela atitude tão típica dos cães preguiçosos, que se deitam e deixam acariciar por quem quer que seja. Passou até a gostar do cachorro. Impressionado, perguntava como podia tamanho cão ser tão manso. Ensinado, diziam. Treinado para ser manso com todos, menos com o engraçadinho que se atrevesse a pular o muro da casa. E, quanto mais avançava a pintura da casa, mais o cachorro e o pintor se davam bem. Até que a pintura da casa chegou ao muro. Fazendo a maior festa no cachoro, o pintor sobe na sua escadinha e pinta a parte superior do muro, sob os olhares preguiçosos do amigo canino. Quando ia começar a descer a escada para pintar a parte de baixo, percebeu uma mudança de atitude no até então amigável cão. Ele rosnava e mostrava os dentes, em atitude que não deveria ser menosprezada. Lembrou-se então que o cachorro era treinado para não deixar ninguém descer do muro... e lá passou a tarde, entre tentativas de negociação com o cachorro (sem sucesso, exceto atiçar ainda mais o animal) e todo tipo de impropério contra aquele cahorro que, na verdade, era um grande burro que não percebia a diferença entre ladrão e pintor e que era amigo até pouco tempo. A longa tarde acabou com a chegada do César, que acalmou o cachorro com dois gritos e o pintor com bem mais do que dois copos de sua pinga de alambique.

Quem é doido de tentar descer do muro com o cachorro do César por perto?

Um comentário:

Anônimo disse...

O fila não devia ser brasileiro, era fila portugues!