10 de janeiro de 2009

O bate-estaca


Hoje em dia é algo bastante comum sair para dançar curtindo um "bate-estaca", uma música eletrônica onde um computador faz as vezes de baterista. Mas quando se passou essa história, bate-estaca era bate-estaca mesmo, daqueles de obra, que produzem um barulhão e fazem tremer o quarteirão inteiro. O que fica ainda pior quando, para ganhar tempo na obra, o encarregado manda começar às 7:30h da manhã. De sábado! Era o que estava acontecendo em uma outrora tranquila ruazinha de Belo Horizonte, onde, dentro de um apartamento, o Márcio via sua vida trasformada em inferno por aquele insuportável bate-estaca. E por ele não tinha problema, engenheiro que era, acostumado a essas coisas. O problema era seu pai, idoso e doente, necessitando de repouso, que ficava enlouquecido, nem tanto pelo barulho, mas principalmente pelo desrespeito que aquele barulho representava, tão cedo num sábado, que fazia tremer de indignação aquele ex-promotor público, que honrava como poucos a atividade. Preocupado com o pai, o Márcio foi até a obra, vizinha de sua casa, e pediu uma palavrinha com o encarregado da mesma. Veio o capataz, sujeito rude e pouco simpático. Ouviu um breve relato sobre a situação da saúde do pai de Márcio, sua necessidade de repouso e, finalmente, a ilegalidade que representava tanto barulho tão cedo. Após ouvir o relato, o capataz, com pressa, encerrou a conversa:

- Todo mundo tem seus problemas. Eu tenho o meu, que é entregar essa obra, que está atrasada. E vou entregar! Era só isso? Passe bem!

Com a nobreza e a fidalguia que sua educação preconizava, Márcio agradeceu, deu bom dia e saiu. Espumando de raiva, mas saiu. E o barulho seguiu.

Súbito, um estampido. Seguido de outro. Quando olhou para cima, o capataz viu o Márcio, na varanda, com uma pistola semi-automática na mão e uma cara de poucos amigos. Da varanda mesmo, veio o recado:

- Presta atenção, seu filho de uma puta: meu pai está dormindo. Da próxima vez que ele acordar com esse bate-estaca, eu não vou nem querer saber quem é o responsável. É em você que eu vou enfiar um pipoco. Poderia chamara a Prefeitura, a construtora, a polícia, mas prefiro resolver as coisas rápido. Eu saio de casa todo dia às 8, 8:30h. De outra vez que eu ouvir essa merda antes de sair ou num fim de semana, é bom você já deixar o cartaz pronto dizendo "precisa-se de capataz".

Das outras varandas, os vizinhos, que haviam saído ao ouvir os tiros, aplaudiram o Márcio. Que, antes de se recolher, ainda gritou para o homem:

- Nessa cidade agora tem xerife!

E, desse dia em diante, graças ao xerife Márcio, a lei e a ordem voltaram a reinar. E o bate-estaca só foi ligado após as 9 da manhã, até o fim dos trabalhos. E o capataz, sempre que via o Márcio, dava um jeito de sair rapidinho da frente dele.

Lembrei dessa história hoje, sábado, de manhã, quando um vizinho sem noção começou a derrubar uma parede às 8 horas da matina. Será que o xerife Márcio aceita trabalhos por encomenda? Tenho um pra ele...


Quem é doido de perturbar o sono das pessoas assim?