9 de janeiro de 2009

Dedução


Em visita a Arraial do Cabo, o Antonio e o Chico resolveram andar pela praia e procurar um lugarzinho mais afastado para... como direi?... fazer uma fumaça, dar uma bola, "entrar num processo de introspecção mística" (essa é do delegado da ditadura que prendeu Gilberto Gil, impagável!). Ou, em bom português, para fumar um baseadinho. Baseadão, no caso. Viram um barquinho parcialmente enterrado láááááááá no fim da faixa de areia, num lugar de onde poderiam monitorar qualquer aproximação suspeita e se encaminharam para lá. Não precisaram andar nem cinco passos naquela areia escaldante para dar graças aos céus pelas sandálias, ou queimariam os pés. Pensem numa areia quente, meus 13 leitores. Pois esta estava ainda mais quente do que essa que vocês imaginaram. Mas eles chegaram.
Chegaram, acenderam o baseado e, nem bem começavam a fumar, viram duas figuras olhando para eles e para a areia, como que a se decidir se encarariam o desafio ou não. Foi o Chico quem cantou a bola:

- Quer apostar que são argentinos?

- Dá pra perceber daqui? Tá, pago pra ver. Dessa distância não dá nem pra ver direito se são homens ou mulheres...

- Pois você vai ver.

E realmente, depois de algum debate, as duas figuras começaram a penosa travessia da faixa de areia escaldante. Sem as sandálias, davam pulos, cavavam pequenos buracos para enterrar os pés, saltitavam, tiravam a camisa e forravam o chão escaldante com ela para pisar um pouquinho em alguma coisa que não queimasse os pés, enfim, tentavam de tudo para chegar rápido. E, assim que chegaram, a risada do Chico e do Antonio foi instantânea:

- Hola! Podemos fumar básseado com bócês?

Eram até gente boa, os caras. Ficaram amigos do Chico e do Antonio. Fumaram aquele e depois um outro, cortesia dos argentinos. Mas naquele mesmo dia, quando os argentinos afinal se afastaram, muuuuuuuito tempo e cervejas e tira-gostos e papo de futebol e muita marra depois, o Antonio não se conteve:

- Como você descobriu, afinal, que os caras eram hermanos?

- Elementar, caro Toni. Só um argentino é capaz de queimar o pé naquela areia escaldante só para fumar um baseado de graça. Você viu? Eles até tinham um baseado. Mas a vontade de fumar um de graça dos brasileiros, só eles, mesmo. Um francês ou um espanhol não teriam queimado os pés...

Quem é doido de deduzir uma nacionalidade tão bem?

Nenhum comentário: