3 de agosto de 2007

O caubói mala


Cara de mau, tipo fortão, camisa xadrez, calças jeans ultra-apertadas, cinto com fivela de cara de cavalo... não, meus caros 13 leitores, apesar da imagem que ilustra este post, não se trata de John Wayne em sua clássica pose de caubói. Esse era, em poucas linhas, o Clóvis, “o novo estagiário da criação”, segundo a secretária da diretoria. Com o adendo de que “é filho de um grande amigo do patrão”.
Se por um acaso vocês pensaram que o cara era bronco só por causa desse visual, acertaram. Quem seria bastante doido de sair na rua assim em plena BH, ir para o trabalho assim? O Clóvis era. Ele também gostava de falar de cavalos e bois, dava tapas nas costas de todos e falava altas baixarias na frente da diretora de criação, algumas de cunho evidentemente machista, outras de cunho sexual. Entre outras. Em suma, uma mala! O sotaque do interiorrrrrr completava o quadro que se apresentava a nós da criação que, junto com o estúdio, éramos os responsáveis pelo trote dos calouros. Mas estávamos de mãos atadas, o cara era “filho de um grande amigo do patrão”, afinal. Mas eis que ninguém senão o próprio patrão, entrando na sala numa hora em que o bravo caubói não estava lá, nos pergunta com sua proverbial ironia:

- Como é que vocês estão aguentando aquela mala do Clóvis? Cada churrasco que eu vou na casa do pai dele eu fico impressionado como ele é chato. Tô impressionado de vocês não terem dado um trote nele ainda...

Nem precisa falar, né? Nos cinco minutos seguintes, o trote já estava bolado: íamos pedir ao Clóvis para buscar a clássica retícula líquida (glossário: retícula, meus leitores que não fizeram a besteira de se meter em propaganda, são aqueles pequenos pontinhos que formam a imagem nos jornais, por exemplo; quanto maiores os pontinhos, maior a retícula e mais distante a pessoa terá que estar para enxergar com nitidez a figura, sendo, portanto, logicamente impossível obter retícula na forma líquida) nos nossos aliados da gráfica que funcionava no edifício em frente: dávamos retícula líquida aos estagiários deles e eles aos nossos. Avisamos que estávamos enviando um candidato ao prêmio Bobo do Ano e esperamos. Logo tocava o telefone:

- Gente, que babaca é esse que vocês mandaram? A gente ia dar um galão de vinte litros pra ele quando vocês disseram que ele era forte, mas a gente achou ele tão mala que vamos mandar logo dois. Vão pra janela aí, pra vocês verem. Ele saiu daqui bufando, são quarenta quilos de água!

E lá fomos, nós, todos nós, até a diretora de criação, para as janelas, ver aquela peça atravessando a rua a passos lentos, arrastados, sofridos, parando a cada cinco metros para descansar os braços. Para completar a maldade, desligamos o elevador. Ele subiu quatro andares de escada até a criação e, chegando lá, colocou triunfante os dois galões no chão para nos dizer, sem entender porque todos ríamos tanto:

- Agora quero ver se vai precisar disso tudo, mesmo. Eu achei exagero... Vocês me devem um favor, hein?

Até hoje, escrevendo essa história, eu rio quando lembro...

Quem é doido de aguentar o Clóvis?

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