14 de maio de 2007

Que sinuca!!!


Um fato que talvez seja uma novidade para os meus 13 leitores é a minha grande habilidade em transformar em verdadeiro espetáculo uma simples partida de futebol. Basta para isso que eu me recuse a participar dela, o que é sempre uma grande contribuição ao bom futebol. Isso dito, para descrever as minhas habilidades na sinuca basta dizer que eu consigo ser ainda pior do que no futebol. Dá pra ter uma idéia? Pois retire um tanto de habilidade dessa idéia que deu pra ter e você estará se aproximando da verdade. Por isso, naquela distante noite, há mais de 10 anos, não era surpresa nenhuma eu estar afundando a dupla da qual fazia parte. Do outro lado, rindo muito e se gabando, estava o Valney, que havia descoberto a sinuca há pouco tempo e havia sido abençoado com um certo jeito para o esporte. Tanto que ele já havia até mesmo investido num taco particular, desmontável, de madeira nobre e acondicionado em um bonito estojo-maleta também de madeira nobre. Em suma, uma frescurada que já havia chamado a atenção dos demais jogadores do salão, tamanha a onda que o Valney tirava. Lá pelas tantas, me vendo em posição de sinuca, com a bola branca a alguns milímetros do buraco do canto e outra bola que não a da vez a bloquear-lhe a passagem, sem deixar em nenhum dos lados espaço suficiente para a passagem da branca, fez pose de campeão e declarou, em alto e bom som, sem se preocupar com a presença, ao nosso lado, de alguns transeuntes que assistiam à partida:

- Se você conseguir sair dessa sinuca, vale qualquer aposta...

Consciente de minhas habilidades, declinei da proposta:

- Vou apostar não, Valney. Se além de mau jogador eu ainda fosse burro, tava lascado...

- Pois vale o seguinte: um realzinho seu, se não conseguir sair. Se você conseguir, sei lá... digamos, eu meto este taco novo no meu cu.

E me perdoem as mais sensíveis leitoras (e algum mais sensível leitor...), mas a aposta, nesses termos, não deixa margem a floreios linguísticos. O Paulo Canelius ainda brincou:

- Que é isso, cara? Não se aposta coisa séria...

- Aposto sem medo. Essa não tem como ele acertar!

Se você, imaginativo leitor, imaginou que eu acabei por acertar a bola, está correto. Por uma dessas coisas sem explicação lógica, a bola subiu, passou por cima da branca e tocou, calmamente, na bola da vez, o que colocaria o Valney em posição terrível caso houvesse entre nós alguma intenção de fazê-lo cumprir a aposta, o que, obviamente, não era o caso, ninguém tinha a intenção de vê-lo executar a manobra proposta e nem sequer de fazê-lo cumprir a promessa em particular. Por gozação, um dos transeuntes que assistiam à cena resolveu provocar o Valney, dando-lhe uma palmadinha no ombro. Ah, mas pra quê? Achando que seria a senha para que o agarrássemos e fizéssemos com que ele cumprisse o trato, deu no sujeito um violento empurrão e saiu correndo pelo salão, deixando para trás seu novo taco, estojo, os amigos que chegaram com ele e, principalmente, a dignidade. Entrou correndo no carro e saiu às carreiras, cantando pneu. Ouvimos rapidamente a voz dele gritando "jamais!". Mas ninguém conseguiu parar de rir para explicar a ele que, embora fosse um merecido castigo pelo excesso de confiança, não seria daquela vez que ele seria obrigado a encarar um taco de sinuca de costas...

Quem é doido de fazer uma aposta desas?

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